A seca está a provocar a morte diária entre 20 a 30 cabeças de gado bovino na comuna da Quimina, município da Baía Farta, na província angolana de Benguela, divulgou um responsável local. O Governo nacional, tal como o da própria Califórnia, continuam a meter água por todos os lados…
Segundo o director municipal da agricultura, pecuária e pescas, Pedro Candangombo, a região conta com um potencial de mais de 85 mil cabeças de gado bovino, mas devido à “gritante falta de água” e a longa distância para o pasto, cerca de 40 quilómetros, os animais estão a morrer.
“A situação que mais aflige é a água e para mitigar essa situação os criadores clamam por apoio do Governo, com pelo menos dois camiões cisternas de água”, referiu Pedro Candangombo, em declarações à Rádio Nacional de Angola.
De acordo com o responsável, os criadores prontificaram-se em apoiar o Governo com os combustíveis para essas cisternas.
“Diariamente aproximadamente 20 a 30 cabeças de gado morrem de forma dispersa, eles percorrem essa distância para o pasto, cavaram uma profundidade de dois a quatro metros onde encontram água no leito do rio. Até que o gado regressar do pasto, uns morrem pelo caminho”, explicou.
A região sul de Angola está a enfrentar este ano uma situação de seca severa, que afecta as províncias do Cunene, Namibe, Benguela, Huambo, Bié, parte do Cuando Cubango, parte do Cuanza Sul e parte do Bengo, prejudicando igualmente o sector agrícola do país e pondo em causa a segurança alimentar das populações.
A californiana tese de João Lourenço
A falhada recuperação económica e a não conseguida diversificação da economia, entre a continuada crise petrolífera, são realidades que Angola enfrenta sob as ordens de João Lourenço, sendo que não será a revisão pontual da Constituição que vai alterar o altíssimo nível de incompetência de quem nos (des)governa há 45 anos.
Empossado como terceiro Presidente da República de Angola a 26 de Setembro de 2017, João Lourenço admitiu em Novembro as dificuldades que tinha pela frente, desde logo ao colocar a tónica no combate à corrupção, uma enfermidade instituída pelo MPLA mesmo antes de chegar ao poder.
“Sei que existem inúmeros obstáculos no caminho que pretendemos percorrer, mas temos de reagir e mobilizar todas as energias para que esse cumprimento se efective nos prazos definidos”, apontou João Lourenço. Apontou, sentou-se e tentou fazer com que as couves crescessem por decreto. O resultado está à vista. O MPLA, por não acreditar no que os colonos portugueses faziam, decretou que as couves deveriam ser plantadas com a raiz para cima…
Seguiram-se dezenas e dezenas de exonerações de quadros ligados a Eduardo dos Santos, substituídos por quadros ligados a João Lourenço, muitos dos quais (tal como o próprio João Lourenço) pouco antes juraram fidelidade ao anterior presidente.
A mudança, juntamente a outras sempre associadas a uma ruptura com o legado governativo do anterior Presidente, deu a João Lourenço uma popularidade que não tinha antes de ir a votos como cabeça-de-lista do MPLA.
Já com João Lourenço como chefe de Estado, José Eduardo dos Santos viu o ‘bureau’ político do MPLA homenageá-lo, recordando-o como “arquitecto da paz” e “de quem os angolanos herdaram um país unido”.
Antes, no final de Outubro, foi a vez do Comité Central proferir uma declaração de apoio a José Eduardo dos Santos: “Exorta os militantes, os simpatizantes e os amigos do MPLA a cerrarem fileiras em torno do MPLA e do seu Líder, o camarada presidente José Eduardo dos Santos”, pode ler-se no comunicado final da primeira reunião ordinária do comité central realizada após as eleições gerais.
No plano económico, com um crescimento insignificante em 2016 e pouco melhor em 2017, à volta de 1%, João Lourenço já fez saber que os próximo anos não seriam de facilidades.
Recorde-se que na pré-campanha eleitoral, em Benguela, João Lourenço afirmou que o governador provincial, Rui Falcão, era obrigado a ‘’transformar a região numa Califórnia em Angola’’, capaz de mexer com a economia e gerar empregos. Isto porque João Lourenço considerava que o agro-negócio, a pesca, a indústria e o turismo podem elevar Benguela à categoria de uma região norte-americana, a Califórnia.
Água não falta. O que falta é competência
Tal como pretende o governo do MPLA, não interessa ensinar a pescar nem mandar peixe. Interessa é mandar dinheiro para, supostamente, ensinar a pescar e comprar peixe. Assim, a União Europeia lançou hoje mais uma tranche de um fundo de subvenções de 65 milhões de euros para financiar projectos de organizações da sociedade civil nas províncias angolanas da Huíla, Cunene e Namibe, afectadas pela seca.
A verba hoje aprovada é de 12.337.500 euros, de fazem parte de um total de 65 milhões de euros, financiados pela UE no âmbito do pomposo projecto de Fortalecimento da Resiliência e da Segurança Alimentar e Nutricional em Angola (FRESAN).
Do valor total, 48 milhões de dólares vão ser geridos pelo instituto Camões de Portugal, nos quatro anos de validade do projecto.
Segundo a gestora de subvenções do projecto de segurança alimentar, Ana Teresa Forjaz, foi lançado um desafio às organizações da sociedade civil a apresentarem, até 14 de Outubro, projectos na área com enfoque na água, por ser uma prioridade e necessidade garantir-se às comunidades o acesso a esse bem.
“O segundo convite destina-se a projectos que possam trabalhar na área da segurança alimentar e nutricional e poderão ter diferentes actividades consoante o foco e a experiência das organizações da sociedade civil, por um lado, mas, obviamente, adequando ao diagnóstico e às necessidades das comunidades rurais que são o público alvo do projecto”, referiu a responsável em declarações à rádio pública angolana.
De acordo com a gestora, um terceiro convite será lançado às organizações da sociedade civil para um maior apoio às cooperativas, associações de produtores, nas áreas de comercialização, transformação e processamento dos produtos agrícolas.
O FRESAN é um projecto financiado pela UE para o apoio às províncias do sul de Angola mais afectadas pela seca e ameaçadas pelos efeitos das alterações climáticas, designadamente Huíla, Cunene e Namibe.
Segundo um estudo do FRESAN, a situação de seca nas províncias da Huíla, Namibe e Cunene afecta pelo menos 1.139.064 angolanos da região. Pelo menos.
É claro que o Titular do Poder Executivo está atento. Prova disso é o contrato rubricado com o Japão e destinado ao sector dos transportes, avaliado em 600 milhões de dólares e que, ao que tudo indica, visa transportar… água para as regiões carenciadas.
Seca é uma galinha de ovos de ouro para o MPLA
Em Maio de 2019, as Nações Unidas disponibilizaram a Angola 6,4 milhões de dólares (5,7 milhões de euros) para ajudar o Governo a fazer face à crise de seca no sul do país. E o que vai fazer o Governo? A fazer fé no seu crasso historial de incompetência vai gastar o dinheiro mas, é claro, mantendo mais esta galinha dos ovos de ouro, de modo a que a seca continue e as doações também.
Em comunicado, as Nações Unidas anunciaram que a referida ajuda se enquadra no Fundo Central de Resposta a Situações de Emergência (CERF, na sigla em inglês) e deverão ser aplicados em projectos nas províncias do Cunene, Huíla, Bié e Namibe, para beneficiar 565.000 pessoas afectadas pela seca.
O actual CERF vai beneficiar cerca de 25% do total de 2,3 milhões de pessoas que as Nações Unidas estimam estarem a ser afectadas pela seca e consequente insegurança alimentar no sul de Angola.
“O Fundo de Emergência (o CERF será dirigido às populações mais vulneráveis e com maiores carências que residem nos municípios das quatro províncias mais afectadas (Cunene, Huíla, Bié e Namibe)”, refere o documento.
As áreas de nutrição, água e saneamento, agricultura e segurança alimentar, saúde e protecção são as que vão merecer (em tese) a atenção do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), do Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP) e da Organização das Nações Unidas para a Saúde (OMS), as agências encarregues de implementar as ajudas.
O documento sublinha que 44% do total do fundo será direccionado para a nutrição, 27,8% para a água e saneamento e o restante será dividido entre os projectos de saúde, segurança alimentar e agricultura e protecção.
“O severo impacto da seca no sul tem levado à deterioração rápida dos meios de subsistência da população. Segundo dados do Governo provincial do Cunene, o número de pessoas que precisam de ajuda humanitária nessa província aumentou de cerca de 250 mil, em Janeiro de 2019, para 860 mil em Março deste ano, o que representa já 80% do total da população da província”, realça a nota.
A ONU estima que 2,3 milhões de pessoas não estão em condições de satisfazer as suas necessidades nutricionais nas quatro províncias mais afectadas, sendo que cerca de 490 mil são crianças com menos de cinco anos. O apoio inclui igualmente a saúde e protecção de cerca de 37 mil mulheres grávidas.
As Nações Unidas consideram que para fazer face à crise e situação de emergência que o país vive seriam necessários 92 milhões de dólares (82,4 milhões de euros), pelo que os 6,4 milhões de dólares disponibilizados correspondem a 6,9% do total das necessidades estimadas.
O que diziam as notícias em… 2017
Angola calculou (2017) em 464,5 milhões de dólares (407,8 milhões de euros) as suas necessidades de recuperação sobre os efeitos e impactos causados pela prolongada seca, que afectou, nos últimos cinco anos, mais de um milhão de pessoas.
Os dados constam de um relatório sobre a Seca em Angola entre 2012-2016 e de Avaliação das Necessidades Pós Desastre (PDNA, sigla em inglês), elaborado pela Comissão Nacional de protecção Civil, com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), União Europeia e Banco Mundial.
A seca afectou sobretudo o sul do país, com mais impacto para as províncias do Cunene, Huíla e Namibe, onde actualmente (2017) existem 1.139.064 pessoas afectadas, segundo os últimos números fornecidos pelo Governo de Angola ao PNDA.
O relatório divide em quatro categorias as necessidades: reconstrução de activos físicos; retoma da produção, funcionamento dos serviços e acesso a bens e serviços; restabelecimento da governação e dos processos de tomada de decisão e resolução das vulnerabilidades e riscos.
O orçamento proposto de 464,5 milhões de dólares elegia os sectores agrícola e hídrico como os mais necessitados, com 189 milhões de dólares (165,9 milhões de euros) e 97 milhões de dólares (85,1 milhões de euros), respectivamente.
“As necessidades de recuperação incluem medidas a curto prazo (seis meses a um ano), médio prazo (1 a 2 anos) e longo prazo (2 a 4 anos)”, refere o documento.
A curto e médio prazo, o Governo apontava medidas como a reabilitação da produção agrícola e pecuária, das fontes de água para aumentar a sua disponibilidade de consumo humano e animal, apoio aos centros de nutrição para o tratamento da subnutrição, o fomento dos programas de alimentação escolar e a promoção de actividades alternativas de geração de receitas.
Já as necessidades de recuperação a longo prazo incluíam medidas para a redução do risco e impacto da seca no sul de Angola, através de uma melhor gestão dos recursos naturais, como a reflorestação, introdução de técnicas de recolha de água, sistema de irrigação comunitária, entre outras.
O Governo estimou na altura em perdas e danos para as três províncias mais afectadas pela seca em Angola um total de 749 milhões de dólares (657,6 milhões de euros).
Os sectores da agricultura, pecuária e pesca eram “os de longe os mais afectados”, como descrevia o relatório, salientando que as perdas nas três províncias foram calculadas com base na quebra da produção de cereais e outras culturas, de leite e de carne, enquanto os danos foram calculados baseados nas mortes reportadas de animais no Namibe (110.000), na Huíla (150.000) e Cunene (240.000), num total de 500.000 animais mortos.
Para o sector da água, saneamento básico e higiene calculava-se que o total de danos se situasse nos 52,5 milhões de dólares (46 milhões de euros), que tem em consideração os 80 por cento de poços actualmente inoperantes, a necessitar de parcial ou total reparação.
A nível do sector da agricultura, pecuária e pesca, as maiores perdas registaram-se na área da segurança alimentar, estimada em 82 milhões de dólares (71,9 milhões de euros), representando 18 por cento do total das perdas.
“O sector da nutrição também registou perdas significativas avaliadas em 32,8 milhões de dólares (28,7 milhões de euros)”, refere o relatório, esclarecendo que estas perdas reflectem os custos adicionais nos quais o Governo angolano e a comunidade internacional incorreram para reduzirem a insegurança alimentar e a subnutrição nas populações atingidas pela seca nas três províncias.
Apoios europeus? Quantos mais… melhor!
A União Europeia disponibilizou, em 2017, 65 milhões de euros para desenvolver em três províncias do sul de Angola, afectadas pela seca, um projecto para o reforço da segurança alimentar e nutricional, que deveria arrancar em 2018.
No país real, o tal dos 20 milhões de pobres, as províncias beneficiárias da ajuda europeia eram, foram, seriam o Cunene, Huíla e Namibe, regiões que nos últimos cinco anos consecutivos registaram períodos de seca severa, que afectou mais de um milhão de pessoas com prejuízos económicos na ordem dos 656,8 milhões de euros, segundo dados do Governo angolano.
Segundo a então gestora do projecto junto da União Europeia em Angola, Susana Martins, o principal objectivo era contribuir para a redução da fome e da pobreza nas camadas mais vulneráveis dessas três regiões, garantir a segurança alimentar e nutricional, com o reforço da agricultura familiar e sustentável.
Susana Martins, citada pela Angop, referiu que o projecto estava dividido em várias componentes, nomeadamente a introdução de metodologias de formação nas diversas comunidades abrangidas, nas escolas de campos agrícolas e agro-pastoris, bem como de equipamentos e práticas de agricultura que iriam facilitar o trabalho e aumentar a produção.
Com este projecto pretendia-se ainda dinamizar o sistema de reservas alimentar, sensibilizar para a melhoria nutricional através da educação alimentar, reabilitar infra-estruturas para captação e conservação de água para irrigação, consumo humano e animal.
As acções iriam estar igualmente viradas para apoiar a resiliência dos agricultores e produtores familiares, com a divulgação de técnicas de multiplicação e promoção de bancos de sementes, conservação e uso sustentável dos solos e pastos.
Em Fevereiro de 2016 as Nações Unidas doaram a Angola 8,2 milhões de dólares para executar um projecto de combate às alterações climáticas na província do… Cunene, que enfrentava há vários anos uma seca severa.
A então ministra do Ambiente, Fátima Jardim, e o Coordenador residente das Nações Unidas em Angola, Pier Paolo Balladelli, assinaram no dia 11 de Fevereiro de 2016 o Memorando de execução do Projecto de Resiliência às Alterações Climáticas na Bacia Hidrográfica do Rio Cuvelai.
O projecto, a ser – dizia-se – desenvolvido até 2019, visava ajudar – se as verbas não se perdessem pelo caminho – a reduzir as vulnerabilidades decorrentes de alterações climáticas, que afectam os habitantes naquela zona, através de investimentos direccionados e o desenvolvimento das suas capacidades.
Concretamente, o projecto vai (ou iria) promover a instalação de um sistema de alerta rápido, o reforço da capacidade do serviço de hidro-meteorologia local, que vão (ou iam) monitorizar as condições metrológicas extremas e as alterações climáticas na Bacia do Rio Cuvelai.
Em declarações à imprensa no final da cerimónia, Fátima Jardim disse que o projecto estava (ou está) inserido no Plano de Adaptação de Angola, uma obrigação da Convenção-quadro da ONU para as alterações climáticas.
Fátima Jardim agradeceu às Nações Unidas a rápida resposta ao apelo de Angola, esperando a continuidade de ajudas, sobretudo dos países desenvolvidos, para “contribuições importantes” como esta feita pela ONU para a província do Cunene e o sul de Angola, há vários anos assolados por uma seca severa.
“Apresentamos esse projecto às Nações Unidas, que é um projecto que se enfoca hoje para a província do Cunene, mas que temos a intenção de abrir à parte sul do país, porque é a parte que de uma forma mais adversa e notória sofre riscos climáticos”, referiu a ministra.
A titular da pasta do Ambiente sublinhou a importância de se educar as comunidades no Cunene, onde a desflorestação é “muito agressiva”, para serem corrigidas “algumas práticas incorrectas cometidas até agora”.
Segundo Fátima Jardim, o Plano de Adaptação de Angola está orçado em mais de 10 mil milhões de dólares, e tem inúmeros projectos nas áreas da agricultura, da educação das comunidades, entre outras, que continuarão a ser apresentados à comunidade internacional.
Por sua vez, Pier Paolo Balladelli salientou que o projecto além de trabalhar na mitigação climática vai igualmente diminuir a pobreza.
“Os camponeses que vão ser parte alvo deste projecto sobre a Bacia do Rio Cuvelai vão ter muito mais capacidade de resiliência, porque vão ter mais informações sobre como ele tem que se adequar para ter cultivações mais rentáveis nesse tipo de problemas que temos pela mudança climática”, adiantou.
Pier Paolo Balladelli, igualmente representante em Angola do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), elogiou (não é mentira, elogiou mesmo) a vontade e capacidade de o Governo angolano “trabalhar conjuntamente com os outros países a nível mundial para se adaptar à mudança climática através de projectos-pilotos como este”.